sexta-feira, 19 de abril de 2013

avó...

Passado um mês te escrevo avó, não sei bem para onde, não sei bem como, te escrevo com a eterna esperança que me possas ler, que me possas ouvir.
Este último mês tem sido como anestesiante, parece que não me sinto, que não me conheço. de certo que é a tua falta, que são sintomas da tua ausência.
 Às vezes entro em casa e ainda vou direita à porta do teu quarto, e depois, no mesmo instante que coloco a mão no puxador... às vezes ainda te ouço pela casa, às vezes ainda te sinto. Tenho de aceitar que te foste embora, que a tua missão estava, por fim cumprida, mas eu já tenho tantas saudades tuas... como se acaba com este sentimento de vazio...
 No teu quarto está tudo igual avó. O teu cheiro continua lá tão intenso como sempre, é impossível não sentir que me olhas sempre que lá vou, que me abraças e me dizes que tudo ficará bem. E eu não consigo tirar da cabeça o teu corpo tão parado, tão sem-vida. 
Avó, eu sou retalhos de ti que ainda cá permanecem, e te prometo, falarei sempre de ti aos meus filhos, da avó sempre maravilhosa que foste, de como protegias sempre os teus, como amaste tão intensamente. Não há maneira de te arrancarem de mim te juro, e tu, sei que continuas torcendo por mim.
e só deus sabe como eu gostava de te olhar uma vez mais...
Onde quer que estejas, que seja lindo, que seja morno, (não suportavas o frio), que te façam a comidinha como tu gostas, ou secalhar aí nesse sítio nem precisas de nada disso, quem sabe? que seja o melhor dos lugares avó, descansa em paz.
'como podem dizer que morreu quem tão presente esta no nosso coração', foi assim que terminou .

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

uma ideia de amor.

Você nunca amou. Você não ama se não aprende a admirar aquela pessoa tal e qual como ela é, sem tentar a todo momento mudá-la.
Não se engane, isso não é amor, isso é mais uma vez a ãncia do ser humano tentando transformar tudo à sua maneira.
O amor não exige qualquer tipo de sacrifício, de acto, o amor é genuíno, o resto? Todo o resto que existe de complicado e egoísta, é por nós incorporado. 
Ame! Mas não pense que ama alguém, se o que você ama na realidade, é apenas a ideia de amor.
Não se engane, amor, não é isso, é muito mais que isso.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O bronzeado pode até já ter ido embora mas as lembranças, essas são definitivas.
Fecha a porta e sai de uma vez. Há quem queira fechar os olhos e dormir. Larga-me já é tarde, e o tom da nossa pele já não combina. Não me tentes levar como se tivesses o poder. É  verdade que sim, já foi teu, já pertenceu a ti, não mais. Vêm e vão, sentimentos como brisas à tardinha quando o sol se pôe.
 Não grites. 
O tom da nossa pele já não combina e eu não posso mudar algo tão genuino. Concorda comigo, já nada encaixa. A pele das minhas mãos, já não procura as tuas. Os teus braços já não me encontram. Os meus pés não querem caminhar até ti. E tu, tu já não os fazes caminhar. Lamento, a pele já não obedece. 
A perfeição daquela maneira tão, secalhar imperfeita, que havia outrora, foi-se. como vão muitas outras coisas. O dia está a terminar, não te atrases, não prolongas esta despedida que é inevitavel. Avanças um passo, finalmente. Sinto os batimentos do meu coração, fortes, rápidos. 
Um outro passo de costas voltadas, os meus olhos enxem-se de lágrimas. Mais um e outro e ultrapassas a barreira da minha vida e desta casa que já foi a nossa. Já não há nada a fazer. 
Eu queria dizer muitas coisas agora, todas aquelas palavras bonitas que se dizem nas despedidas. Da minha boca nada consegui dizer, e tu fechas a porta. Tarde demais. Volto-me. Corro até à janela, abres a porta do carro, pegas na mala e entras a toda a pressa.
 Eu olho, tu sorris e te vais, desapareces.

Pego no cobertor, enterro-me no sofá e ali fico, as despedidas são sempre dificeis não é ?!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

saboreio cada pedaço, cada colherada como se fosse a vida.
como se estivesse à minha frente e eu a querer alcança-la mais do que toda a gente, e menos do que alguém a quem os anos estao sendo contados.
uma e outra colher da vida, e olho em volta e ninguém luta por agarrá-la.
esta carinha de boneca, máscara de mulher, perfil misteriosa, com pintura de barro, cubrindo todas as nódoas e imperfeições da vida, lápis tornando os olhos cada vez mais intensos e mais maduros, um molde que transforma estes lábios mais notáveis, mais fortes de dizer o que seja o que for, a sombra colocada só para fazer parecer mais mulher, e as mãos já conhecem de côr, cada marca deste pequeno rosto de porcelana.
chove e eu tenho da sair, as colheres estao acabando, uma e outra e o gelado da vida esgota-se, como tudo aliás, vai-se esvaindo, vai-nos sendo arrancado das mãos.
esta na hora, na hora de ir e sentir. levanto-me calmamente, nem um olhar para quem quer que seja, cabeça erguida, agarro o puxador com toda a força e empurro.
dou um passo com este salto alto que me mata a cada caminhada e saio.
posso apostar que sinto cada lágrima do mundo. cada som ao cair no meu corpo, vai burrando toda a pintura, vai mandando embora a mulher que mostro ao mundo e fica apenas a menina que nunca tem chance de viver.
os cabelos vao deixando a forma solene e sombria e colam nas minhas costas, agora mergulhadas nesta tempestade.
fecho os olhos, largo o casaco e ouço-o cair, descalço os meus pés sufocados naquele molde, sinto o chão, quente e a água quase gelada.
na minha cabeça vejo toda a minha vida que passa, abro de novo os olhos e vejo a vida dos outros a passar.
passem tenho pressa, e vou - me afastando daquela rua e vou deixando todo o passado agora molhado em lágrimas de saudade.

primeiro-dia

2 Fevereiro 13, Porto, Viviana silva, e seu blog.